Não só amarelo, setembro também é verde! Hoje, 21 de setembro, é o dia que celebramos o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.
E, claro que, no Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, a Saturdayss Brasil se une à causa, destacando a importância da inclusão e acessibilidade para todos, especialmente no mundo do entretenimento. Neste dia, temos a honra de conversar com uma das nossas próprias administradoras, Suélen, que é uma mulher com deficiência. Com muita força e paixão, ela nos conta sua experiência de vida, como fã do Jeff Satur, os desafios que enfrenta em seu cotidiano e como enxerga a inclusão nos espaços de shows e eventos.
Nesta entrevista, discutimos tabus, acessibilidade e o papel que as fanbases podem desempenhar na criação de um ambiente mais inclusivo. Acompanhe o relato de uma verdadeira Saturdayss inserida nessa realidade e reflita conosco sobre o que ainda pode ser feito para tornar o universo da música e do entretenimento mais acessível a todos.
Primeiramente, quero expressar o quanto me sinto orgulhosa e honrada por ter você em nossa equipe, Su! E claro, não sou só eu — toda a equipe da Saturdayss Brasil sente um carinho imenso por compartilhar os dias com você. É sempre um privilégio trabalhar ao seu lado e conhecer ainda mais sobre quem você é e toda a representatividade que você carrega consigo.
VISÃO DE MUNDO 🌎
Nos conte um pouco sobre você! Quem é Suélen, como um todo?
SUÉLEN: Primeiramente, tenho muitas dificuldades em falar sobre mim (estou tratando disso na terapia). Enfim, vamos lá. Sou Suélen, ou Su, ou Susu, tenho 34 anos e moro em Florianópolis, Santa Catarina. Sou bibliotecária em uma universidade e trabalho e pesquiso sobre acessibilidade informacional para estudantes com deficiência em ambientes universitários. Sou uma mulher com deficiência e uso cadeira de rodas. Sou uma pessoa tímida, mas que gosta de conversar quando está disponível. Gosto de música, amo filmes e séries asiáticas e tenho um grande encanto pela cultura tailandesa. Gosto de ler, mas no momento não estou conseguindo (triste). Quem sabe um dia eu viaje ou até more lá. Por fim, sou uma grande fã de Jeff Satur e Barcode Tinnasit.
Sobre as barreiras que você enfrenta diariamente como PCD, na tecnologia, no seu crescimento, nos estudos e agora no trabalho: Como você lida com essas barreiras e o que gostaria de ver mudado em termos de inclusão?
SUÉLEN: Infelizmente, a barreira que ainda mais persiste é a atitudinal, ou seja, as atitudes da sociedade em relação às pessoas com deficiência. Há muito a ser mudado, especialmente a percepção de que pessoas com deficiência podem fazer o que desejarem e estar onde quiserem. Se a sociedade compreendesse isso, certamente veríamos mais pessoas com deficiência nas universidades, no mercado de trabalho, em restaurantes, cinemas, shows, entre outros espaços. Quando a barreira atitudinal for superada, as pessoas começarão a criar ambientes, programas, passeios e outros espaços acessíveis para todos. De todo modo, procuro lidar com isso da melhor forma possível — afinal, são 34 anos de vivência. No entanto, confesso que, dependendo da situação, ainda fico chateada e tento me impor. Sempre que possível, compartilho informações e converso com as pessoas sobre o assunto.
Sobre as barreiras atuais: Quais as maiores HOJE? Quais os principais pontos que você enxerga a necessidade de melhorias nos ambientes que você convive?
SUÉLEN: São tantos... Acho que o que mais impacta é a falta de acessibilidade em diversos locais, os meios de transporte ainda precários e a falta de senso e respeito das pessoas. A sociedade, em geral, ainda precisa ter muito mais conhecimento e convivência com pessoas com deficiência. É importante que as pessoas entendam que tenho capacidade de trabalhar, tenho meu lugar de fala e posso exercer um cargo de liderança, por exemplo.
Pensando sobre a rede de apoio: Qual a importância dessa rede em sua vida até aqui? Você acredita que uma rede de apoio dos familiares e amigos tenha sido importante para sua qualidade de vida? Nos conte um pouco.
SUÉLEN: Sim, é muito importante. Eu preciso de auxílio para realizar todas as atividades da vida diária, então sempre conto com minha família, colegas de trabalho e amigos para me ajudarem em tudo o que preciso, seja no trabalho, nos estudos ou em passeios. Confesso que, às vezes, gostaria de ser mais independente e ter cuidadores particulares, além da minha família, pois nem sempre eles estão disponíveis para tudo o que eu gostaria de fazer. No entanto, financeiramente, isso ainda não é possível... (risos).
Sobre a saúde pública: Como você descreveria a saúde pública em sua realidade? Quais as falhas que precisam ser revisadas em sua visão?
SUÉLEN: Questões relacionadas à saúde são um ponto sensível, especialmente para muitas pessoas com deficiência, que precisam realizar tratamentos ou adquirir tecnologias assistivas, como cadeiras de rodas, próteses, entre outros. Esses itens e tratamentos representam um grande investimento financeiro, e a maioria das pessoas com deficiência não tem condições de arcar com todos esses custos. Embora o SUS ofereça acesso a esses recursos, muitas vezes há uma longa espera, que pode durar anos, e nem sempre disponibiliza tudo o que é necessário, o que acaba prejudicando a qualidade de vida das pessoas com deficiência.
No meu caso, durante parte da infância, consegui tratamento e aquisição de equipamentos, como cadeiras de rodas e mesas adaptadas para a escola, além de cirurgias, por meio da rede pública. Felizmente, depois disso, meus pais puderam custear um plano de saúde para que eu continuasse meus tratamentos, como fisioterapia, equoterapia, hidroterapia e terapia ocupacional, além de adquirir cadeiras de rodas e outros equipamentos necessários.
Sobre apoio psicológico: Você acredita que o suporte que o poder público, mesmo que falho, deva se estender sobre o apoio emocional e psicológico da pessoa com deficiência?
SUÉLEN: Sim, acredito que todos precisam de apoio psicológico, especialmente as pessoas com deficiência, que enfrentam diversas situações no dia a dia, como capacitismo (preconceito contra pessoas com deficiência), falta de acessibilidade entre outros. Além disso, compreender sua própria condição pode afetar o emocional. Por isso, é fundamental contar com o acompanhamento e suporte de um profissional para ajudar a lidar com essas questões. Eu comecei a fazer terapia esse ano, e isso está me fazendo muito bem.
VISÃO DE FÃ NO MUNDO DO ENTRETENIMENTO 💛
Nos conte um pouco sobre a Saturdayss que habita em você! Quem é Jeff Satur em sua vida?
SUÉLEN: Uau, confesso que não esperava sentir todo esse amor por ele. Ele é tão especial para mim; faz meus dias muito mais felizes. Ouvir suas músicas me traz uma paz imensa. Conheci o Jeff em KinnPorsche, em 2022, e a partir daí fiquei encantada por ele e pelo Barcode. Fui atrás de tudo sobre eles e comecei verdadeiramente a acompanhá-los. Fico tão feliz por cada conquista, pelo crescimento e pela sua felicidade. Espero que um dia possa conhecê-lo pessoalmente (estou ansiosa pelo próximo show no Brasil) e dizer essas coisas a ele.
Como ser fã do Jeff Satur impacta sua vida como pessoa com deficiência? O que na música, atuação ou presença do Jeff te inspira e ajuda no seu dia a dia?
SUÉLEN: Acho que Jeff fala muito sobre a importância de nos amarmos em primeiro lugar, ter orgulho de nós mesmos e persistir, sem desistir dos nossos sonhos. Gosto muito disso e levo essas lições para a minha vida e me conforta com o abraço de Saturno. Por mais que grande parte de suas músicas trate de dor e sofrimento, elas realmente me inspiram. Não sei explicar; parece até contraditório, mas é a verdade.
Nos conte um pouco sobre a Saturdayss Brasil: Como foi formada sua experiência dentro da fanbase ao longo desses 11 meses? Quase aniversário de um ano, ein?
SUÉLEN: Eu realmente amo fazer parte da Saturdayss Brasil; é como uma segunda família para mim. Nesses quase um ano, já fiz tantas coisas e aprendi muito sobre o Jeff, o fandom e até a mexer no Canva. Escolhi entrar para a equipe de votações, que é algo que gosto de fazer, e também porque sou um pouquinho competitiva (risos). Quero que o Jeff ganhe todas as votações! Já fui uma das responsáveis pelo mutirão de rádio e por criar mutirões de levantamento de hashtags no Twitter, entre outras coisas. Hoje sou líder de equipe, o que é muito importante para mim, mas ao mesmo tempo ainda me sinto insegura. No entanto, sempre nos apoiamos em cada projeto, e isso me deixa mais tranquila. Agradeço sempre pela confiança, pois isso me incentiva a acreditar que consigo realizar as coisas que desejo.
Você sente que há algum tabu ou preconceito sobre pessoas com deficiência no mundo dos fãs e do entretenimento? Como você acha que as fanbases e os eventos podem trabalhar para quebrar esses tabus?
SUÉLEN: Como já comentei, muitas pessoas ainda acreditam que as pessoas com deficiência não são consumidores. Teatros, casas de show e produtoras de eventos muitas vezes pensam que garantir apenas a acessibilidade arquitetônica ou oferecer ingressos de meia entrada, por estarem previstos em lei, é suficiente. Mas não é só isso; queremos ser tratados com dignidade e respeito. Muitas pessoas precisam de apoio e suporte devido à sua condição, e isso deve ser garantido e respeitado sem restrições. Acredito que as fanbases e outros fãs podem auxiliar nesse processo, estando juntos e à disposição para divulgar informações e lutar pelos nossos direitos (risos).
Como foi sua experiência caso tenha participado de eventos ou shows com relação à acessibilidade? Já enfrentou dificuldades em termos de acesso, locomoção, ou até mesmo no envolvimento com outros fãs? Alguma experiência específica te marcou, positiva ou negativamente?
SUÉLEN: Eu só fui a um show grande quando era criança e, pelo que lembro, foi tranquilo. Mas já vi vários relatos de pessoas com deficiência, alguns positivos e outros nem tanto. De forma positiva, algumas produtoras ouviram as pessoas com deficiência (o famoso “Nada sobre nós, sem nós!”) e montaram espaços acessíveis para todos, criando áreas e outros locais de convivência. Porém, há aquelas que não se importam e apenas oferecem um cantinho mal posicionado, onde é difícil ver o artista, especialmente para pessoas em cadeiras de rodas.
Caso exista a chance de ter um show de Jeff Satur no país: Como você espera que seja sua experiência? O que você acredita que as empresas de entretenimento, neste caso, deva incluir sobre a acessibilidade para as pessoas com deficiência?
SUÉLEN: Espero que, quando houver novamente o show do Jeff aqui, eu consiga participar tranquilamente. Será minha segunda vez em um show, e são tantas coisas a se pensar para uma pessoa com deficiência, desde a viagem, hospedagem, locomoção e até o próprio evento. Eu só quero curtir, assim como qualquer outro Saturdayss Gostaria que, pelo menos, a empresa me desse uma infraestrutura adequada para que eu pudesse aproveitar tudo com tranquilidade.
AVANÇANDO PARA O FUTURO 💡
Você já participou de alguma ação de fãs voltada para a inclusão de PCDs? Acha que as fanbases e todo o fandom podem ter um papel ativo na promoção de um ambiente mais acessível e inclusivo?
SUÉLEN: Eu nunca participei de ações de fãs voltadas para a inclusão, mas acredito que coisas como essa entrevista, por exemplo, já são muito representativas. Trazer informações sobre pessoas com deficiência e acessibilidade contribui para o entendimento e conscientização das pessoas. Pequenas ações também fazem muita diferença, como legendas em vídeos e descrições de imagens. Isso ajuda cada vez mais fãs a acompanhar seus ídolos.
O que significa para você o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência? Como você gostaria que essa data fosse vista e celebrada pela sociedade e, especialmente, pelas comunidades de fãs?
SUÉLEN: Realmente, é uma luta de muitos anos, em que grupos de pessoas se uniram para conquistar os direitos que temos hoje. É uma data para ser lembrada não só hoje ou neste mês, mas todos os dias. Quero que meus direitos sejam respeitados e que as pessoas entendam que acessibilidade não é um favor, e sim um direito. Gostaria muito que todos se engajassem nessa causa, colaborando ao apoiar influencers com deficiência e trazendo cada vez mais visibilidade e representatividade.
A deficiência é uma condição humana, uma característica, e é importante lembrar que, antes de tudo, somos pessoas.
Qual mensagem você deixaria para outras pessoas com deficiência que são fãs de Jeff Satur, de música em geral e entretenimento?
SUÉLEN: Sejam felizes! Busquem conforto no que lhes faz bem, aproveitem tudo o que têm direito — vão a shows, cinema, viagem, etc. Aproveitem tudo o que é de direito e lutem pelo suporte necessário. “O lugar de uma pessoa com deficiência é onde ela quiser estar.” Aos Saturdayss, espero encontrá-los em algum show por aí.
O que dizer dessa entrevista maravilhosa? Acho muito importante termos esse contato, podermos ler em primeira mão sobre a vivência de alguém com local de fala e não só os genéricos "feliz dia" ou "lutem por isso". Mas poder ler os pensamentos, a vida, e o mundo através dos olhos de alguém que sente na pele. Que entrevista boa e linda. 💚
Que lindo, Susú, você realmente é uma fonte de inspiração. Sua atitude incansável, seu equilíbrio e força, sua garra e determinação, seu senso de organização, são lindos de ver daqui de fora. Que sua luta seja recompensada, e que bom te encontrar pelo caminho, e usufruir de sua doce e forte companhia. Te admiro muito ❣️
Não preciso nem comentar muito sobre o quanto eu chorei lendo tudo isso, não é? Um orgulho dentro do coração que parece que vai explodir, bicho. Te amamos, Susu!
💚💚